ela tocava em mim como se todos os dias fossem terça-feira
falava como se abrisse o frasco de doce e o voltasse a guardar na despensa
acordava como se já estivesse atrasada para viver
os azuleijos refletiam o brilho da rua, faróis de carro, o parque infantil, uma senhora a passear o cão
mais uma vez
outra
e outra
tocava-me como se as costas da sua mão fossem papel pardo
papel de embrulho
papel vulgar
levantei-me
abri a torneira da água quente
peguei na sua mão e pu-la debaixo da água morna
ela
abriu os olhos espantada
olhou na direcção dos meus olhos, enquanto o arrepio da água quente se espalhava pela nossa pele
fechou os olhos... algum prazer
toquei-lhe o rosto
o tempo suspendeu-se
a senhora do cão sentou-se á sombra de uma árvore
o parque infantil encheu-se de barulhos de crianças
o carro deu a curva e desapareceu
respirei fundo
testa com testa
ela abriu os olhos
olhou-me como se me tivesse visto pela primeira vez
encostou a boca ao meu ouvido
e sussurou:
olá... quero viver contigo como se todos os dias fossem sábado de manhã
26 janeiro 2007
Coin Operated Boy - dresden dolls
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
miguito que lindo poema
gostei mesmo
é muito bonito
fez-me suspirar
tenho saudades
beijos grandes
no dia que decidires dançar no metro, quero estar lá...
anademar
Enviar um comentário